segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Money que é good nóis no have

Criôncia todo dia sai pra labutar.
E todo dia se pergunta se o dinheiro vai dar.
O pão, o shampoo, o papel higiênico, coisas que faltam e ela tem que comprar.
Será que vai dar?
Às vezes ela quer ser princesa, mas lhe falta o reinado e o bambar.
Será que vai dar?
Fim de mês chega e não tem consolação. Nada a faz melhorar.
Ela se prosta na cama e dana a chorar.
Será que vai dar?
Levanta, Criôncia! Chegou até aqui! Nem eu tô a reclamar!
Será que vai dar?
Criôncia levanta e parte a labutar.
Finge não ligar.
Será que vai dar?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Ok, você venceu! Batata Frita!

Ela teimou que seu cheiro é de tangerina e ninguém, nem que sinta cheiro de feijão, poderia mudar isso na cabeça dela. Nasceu assim. Desde pequena já espalhava aos quatro-cinco cantos que cheirava a tangerina. Todos discordavam, mas ela sempre afirmava: "Meu cheiro é de tangerina". Alguns diziam que dela o cheiro era de jabuticaba, alguns sentiam de balinhas Mentos, outros de papel novo, e outros tantos de folha molhada. Era de se sentir qualquer cheiro, menos o de tangerina. Entretanto, ela não se deixava enganar e continuava a repetir: "Meu cheiro é de tangerina!". Ele sentou ao lado dela. Ela não percebeu com os seus 25 anos. Ela nem notou quando ele sentou-se ao seu lado. Continuou a brincar de FreeCell no celular. O ônibus costumava demorar às sextas-feiras. Assim como ela tinha certeza do seu cheiro de tangerina, tinha certeza que o motorista de sua linha de onibus estaria em um bar na sexta-feira, como em todas as outras tantas que ficou horas a esperar. Guardou o celular, tinha medo de ladrão. Ele a olhou desde que sentou. Percebeu suas unhas ruídas e seus cabelos ralos que tinham lá o seu lindo charme. Ela, então, resolveu cantarolar: "Eu nasci assim, eu cresci assim, Gabriela". Que música gostosa, ela pensou. Ele achou aquilo engraçado, pois ela falava sozinha. Que louca, pensou ele. Uma louca bonita, sim, claro. Ela bem que era bonita, apesar de garantir que é capaz de metamorfoses. Como, menina? Ela explica: "É o seguinte, na 8ª série, meu professor de Biologia contou que as mulheres no período da ovulação têm um cheiro que atrai os homens. As mulheres ficam mais bonitas e cheirosas nessa fase porque têm que atrair para procriar". Apesar de eu achar que certas mulheres não atraem nem mosca no período fértil, ela acreditava piamente nisso e criou uma outra teoria. Ela passou a pensar que no período da sua mentruação não atrai os homens e é neste período que ocorre sua metamorfose. Ela acredita que fica feia e barriguda, sem nenhum atrativo, neste período. Ele também já estava cansado de esperar pelo ônibus. Tornou a olhá-la. Dessa vez desviou, ela também estava olhando. Ela estava rindo. Despois pensou "Por quê desviei? Ela tem o sorriso lindo". Ela parou de cantar. Achou que estava ficando com jeito de maluca, movendo os lábios sem emitir som. Abriu, então, o caderno. Um ventou passou de leve e trouxe ao seus sentidos o cheiro de tangerina. Ela fechou o caderno. Ficou feliz ao sentir seu cheiro. Na verdade, ela estava feliz. Olhou para o rapaz do lado, até que o achou bonitinho. Depois voltou a olhar pro caderno. Isso não é coisa que se faça, ficar rindo à tôa olhando para os outros. Ué, por que não? Voltou a sorrir. Ela já estava acostumada àquela espera. Até pensou em pegar outro ônibus, mas estava de bom humor. Ela ia esperar. Ele estava inquieto. Nem aquele cheiro de tangerina, que ele tanto gosta, alterou seu estado. Ele começou a pensar descontroladamente em como o ônibus demorava a chegar. Pensou na Lei Seca, nas eleições, em Lula. Ele até que tinha um quê na política militante. Gostava de ouvir horário político. Putz, esqueci o fone do celular, pensou. Ele estava perdendo o tal horário. Tomara que chegue a tempo de ver na tv, pensou em complemento. Levantou-se. Foi até a margem da calçada. Então, voltou, tornou a olhá-la. Ele a achou atraente. Tinha os traços finos e delicados, mas não era isso que o atraia, era outra coisa. Ele não sabia. Ela estava iniciando o pensamento de pegar dois ônibus. Ela viu aquele menino inquieto, sentiu que ele também aguardava o mesmo ônibus que ela. Só podia ser, ela sabia disso, conhecia "seu povo". Ela também se sentiu inquieta. Esqueceu o bom humor. Ela, agora, queria ir pra casa combinar a night. "Esse rapaz é realmente uma coisinha". Ela tem esses pensamentos repentinos, mas esse foi porque ele a olhou de frente. A demora do ônibus a venceu e ela pensou alto "Chega, vou pegar dois ônibus". Ela levantou-se. Ele a ouviu e pensou em segui-la. Até que era uma boa idéia. Ela sentiu que ele a olhava agora. Ele a olhava intrigado. Iria? Ela viu o ônibus suporte chegando, bateu a mão. Ele pensou que deveria ir. O ônibus, afinal, estava ali. Ela subiu no ônibus, sentia-se radiante. Ele ficou parado. O ônibus seguiu seu trajeto. Ela ainda deu uma espiada na "coisinha" do ponto. Ele acompanhou a saída do ônibus como quem vê partir o trem das onze. Resolveu esperar. Mas que cheiro delicioso. É o mesmo cheiro de tangerina. Se foi. Ela sentou no ônibus e voltou a jogar FreeCell.

sábado, 11 de outubro de 2008

"Mas há fronteiras nos jardins da razão."

- A exploração emocional não deveria existir.
- Claro, mas se não existisse estaríamos reclamando.
- Por que?
- Porque estaríamos todos iguais emocionalmente.
- Eu não penso assim. Penso que se não existisse seríamos mais felizes.
- Mas quem disse que quero ser feliz o tempo inteiro?
- Pois é, eu também não quero ser feliz toda hora. Vou ter cara da noiva de Chuck com botox.
- Ah, gente. Vão dizer que ser feliz sempre não é o que vocês querem? Deixem de falsidade!
- Eu não! Cruzes, dô valor a minhas lágrimas!
- Ah, eu também. Principalmente de tristeza. Fortalece.
- Nem sempre, vou ter que discordar, às vezes enfraquece!
- É, enfraquece tanto que ficamos doentes.
- Mas já não somos todos uns doentes?
- Talvez, mas não acho que seja bom procurar por isso. Ser feliz o tempo inteiro não dá e ser triste, triste, triste não quero ser.
- Não falo em ser triste, triste, triste. Falo que somos todos patologicamente seres humanos.
- É pode ser, mas não quero pensar nisso.
- É, faz parte, pensar nisso choca.
- Choca mesmo!
- A cerveja tá geladinha.
- Vixe, tá uma deli.
- E o sol bombando.
- É.
- Eu nem posso tomar sol.



Silêncio. Psiu!




- Um anjo passou.
- Não, o anjo tá aqui.
Gargalhadas.


"Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor!"