segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Verão de 2005...

Independente da impressão que ele tenha lhe causado, as marcas foram mais profundas do que ela imaginava. Ela acreditava que foi há apenas poucos meses, mas havia passado sete anos. Como não acabar? O afeto se tornou cortesia, as discussões inacabáveis sobre suas próprias vidas foram substituídas pelo silêncio, assim como as trocas de juras de amor veladas ao som da própria sensatez que permeava os lados opostos. E mesmo assim, ela continua buscando incessantemente por ele em toda e qualquer pessoa por quem se afeiçoa. Dele, ela ainda imagina opiniões e trava intensas conversas que só existem em sua mente. Conversas que aliviam a dor de amar, mas que não acalentam a saudade e a vontade de estar. Ele a recusou mais de uma vez, ela entendia e compreendeu tempos depois que talvez tenha sido melhor assim. Dúvida cruel que não será respondida. Aquela viagem foi o encontro de dois mundos que não mais se cruzavam no presente, constatando que o futuro também os manteria afastados. A lágrima sem escuta escorreu no rosto dela. De que adianta chorar quando se tem tanto para entender? Ainda presa ao passado, toda vez que senta no chão da cozinha, sorri e lembra daquela música que ela nunca pôde cantar pra ele: "...I charm you and tell you of the boys I hate, all the girls I hate, all the words I hate, all the clothes I hate. How I'll never be anything I hate. You smile mention something that you like or how you'd have a happy life if you did the things you like..." E assim ela enumera tudo que aprendeu a gostar com e nele, com carinho. A recordação é sua bengala. O amor é simbólico e para ela é só o começo de muitos amores. Ainda há esperança. Não há mais nada entre os dois. Ele não se manifesta, pois renasceu na emoção de uma vida conjugal, que tanto ela almejou para si. Que feliz! E capturada por um surto de bondade, ela ficou feliz e desejou que assim o fosse. Foi a vida dizendo para criar seu próprio destino. E ela aceitou. Ela saiu. Ela sorriu. Ela amou.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Um filhote de leão, raio da manhã...

Um dia na "roda da morte mental em psicologia", ela citou a música Livro de Caetano. E como o destino prega peças que nunca vamos entender - e nem quero, resposta pra tudo é muito chato - nos descobrimos protagonistas de histórias tão surreais e tão iguais. Daí então, não tínhamos porquê passarmos despercebidas uma pela outra. A partir de então, vivi só risos. A risada mais contagiante e linda que conheci. Tem vezes que a procuro só pra roubar um pouco dessa risada e assim, me sentir melhor com o dia e a vida. Porque quando ela ri, ela me diz: "Tá tudo ótimo, Cobra, confie em mim, que tudo tá certo". E eu confio. Claro, que nem sempre ela está rindo. Um dia esse sorriso apagou e foi minha derrota. Não sei como ela passou por tudo e, nem ao mesmo entendo como consegui passar assistindo a tudo. Eu acredito muito, que ela deve tudo ao riso dela, pois ela ri com o coração. E gente assim está sempre protegida. Acredite. Ela tem um jeito SÓ DELA de reclamar das roupas, do cabelo... Jeito que me faz rir por dentro, mas me mantenho séria, porque ela sempre está falando sério nessas horas, mas é muito engraçado. Fazemos parte do projeto SÓ AMOR e, apesar dela achar que meio mundo a odeia, eu só conheço uma pessoa no mundo tão amada, tão querida e idolatrada: Ela. Além de tudo, é sempre um diário de notícias ambulante. Aponte a qualquer pessoa na rua, que com certeza ela tem uma ou cinco histórias para contar sobre essa pessoa ou alguém envolto dessa pessoa. É a coisa MAIS INCRÍVEL. Sério. E já desisti de imitar esse canal de informações. Sou muito desligada. Esse brilho tem que ser só dela. Ela tem uma paixão na hora de discutir com você, que também é outra coisa sem igual. Você pode discutir sobre a cor rosa de uma fachada e ela vai fazer desse assunto a conversa mais interessante do seu dia. Porque quando ela fala, ela argumenta e defende o que pensa com amor. Suas palavras têm alma. Eu vejo colorido saindo de sua boca, quando ela me explica alguma coisa ou quando discutimos algo em que não concordamos. Nada é chato com ela. Muito pelo contrário. Tudo é surpreendente e nunca sei como as coisas vão acabar quando ela está por perto. Isso. Foi isso que me fascinou, a sua alma aventureira. O mundo é dela, tenho certeza. Eu a vejo no mundo. E sabe de uma, ela também se vê. Adoro quando ela planeja o café em Paris, a festa lhouca em Amsterdã ou um simples passeio na Barra. Quem a conhece com certeza visualiza tudo junto. Às vezes acho que deveria ser advogada. Te convece a qualquer coisa. Uma figura. Eu não concebo uma vida sem ela. Não concebo não dividir minhas coisas com ela. E não concebo uma semana sem ouvir a risada mais fofa que já ouvi. Ela não é só mais uma garota andando na rua, ela é Cobra, ela é riso e AMOR, e a força disso só quem a conhece, de verdade, pra entender. Porque ela simplesmente é. E isso basta.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Não é o que não pode ser que não é

Não sou de comer pastel com freqüência. Até porque o pastel não aparece sempre em minha vida. Não é igual a outros petiscos do dia a dia - como os espetinhos, os beijus e os acarajés, que são sempre freqüentes. O pastel é mais especial, sua barraquinha não está em toda esquina. A barraca de pastel flutua em ruas que desconheço. Ainda bem, pois o muito fácil não me atrairia tanto. O comum não me atrai com tanta vivacidade. O pastel tem esse poder em mim - me sinto viva. Mas não penso que ele é a décima maravilha do mundo, talvez a vigésima. Não, ele tem seus defeitos. Encantadores, sim. Nunca consegui nas poucas vezes que comi o pastel não ter a sensação de que algo está errado. Mesmo assim, ainda o como. Incrível, me faz bem. Porém, não sei bem qual grau de desconforto posso atribuir a certos aspectos do pastel. Tem o aspecto da sobriedade. O pastel sempre me deixa alerta, como se soubesse que cada mordida deve ser medida, pensada e calculada. Fico sóbria e certa, assim, ao comer o pastel. Outro aspecto, entretanto, é tão devastador em mim quanto à sobriedade, é a ilusão de recheio. O recheio vem pronto, certeiro, fascinante, apaixonante (e como me apaixono). Entretanto, o recheio se perde no-com-o vento. Eu deixo o pastel achar que está tudo bem, que me sinto preenchida e satisfeita, mas sei bem que esse recheio é de vento. Vento que me alisa, me abraça, me embebeda de amor. E eu me deixo seguir ao vento, como quem finge comer recheio. Me delicio aos sussurros do vento e por alguns instantes, até, penso que verdadeiramente meu paladar encontrou o conforto do recheio. Me preocupa o pastel pensar que não está me alimentando. Aí vem a sobriedade, é o efeito em mim. Penso em tudo como deve ser feito, a cada instante, e entro do mundo de hesitações. Outro e outro aspecto do pastel que marca pela delicadeza - permeada de respeitos e incertezas - é como devo tocá-lo. Tento não amassar o pastel, coitado. Na verdade, não é ele quem é coitado, ou o é. Sou eu ou não. Contudo, sinto que coitada de mim, porque se caso eu amasse o pastel, posso me acostumar a isso. E isso, amassar o pastel, não terei sempre (lembrem-se que barraquinhas do pastel flutuam por outros ares). Manuseio-o com cuidado para que não se sinta amassado. Tenho medo do apego ao pastel. Mas como me apegar ao pastel de vento? Vento não me alimenta, me fascina. Só que gosto de alimento. E me alimento de comida real. Por isso, por aqui fico a me preencher com o acarajé, o beiju, o espetinho...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Money que é good nóis no have

Criôncia todo dia sai pra labutar.
E todo dia se pergunta se o dinheiro vai dar.
O pão, o shampoo, o papel higiênico, coisas que faltam e ela tem que comprar.
Será que vai dar?
Às vezes ela quer ser princesa, mas lhe falta o reinado e o bambar.
Será que vai dar?
Fim de mês chega e não tem consolação. Nada a faz melhorar.
Ela se prosta na cama e dana a chorar.
Será que vai dar?
Levanta, Criôncia! Chegou até aqui! Nem eu tô a reclamar!
Será que vai dar?
Criôncia levanta e parte a labutar.
Finge não ligar.
Será que vai dar?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Ok, você venceu! Batata Frita!

Ela teimou que seu cheiro é de tangerina e ninguém, nem que sinta cheiro de feijão, poderia mudar isso na cabeça dela. Nasceu assim. Desde pequena já espalhava aos quatro-cinco cantos que cheirava a tangerina. Todos discordavam, mas ela sempre afirmava: "Meu cheiro é de tangerina". Alguns diziam que dela o cheiro era de jabuticaba, alguns sentiam de balinhas Mentos, outros de papel novo, e outros tantos de folha molhada. Era de se sentir qualquer cheiro, menos o de tangerina. Entretanto, ela não se deixava enganar e continuava a repetir: "Meu cheiro é de tangerina!". Ele sentou ao lado dela. Ela não percebeu com os seus 25 anos. Ela nem notou quando ele sentou-se ao seu lado. Continuou a brincar de FreeCell no celular. O ônibus costumava demorar às sextas-feiras. Assim como ela tinha certeza do seu cheiro de tangerina, tinha certeza que o motorista de sua linha de onibus estaria em um bar na sexta-feira, como em todas as outras tantas que ficou horas a esperar. Guardou o celular, tinha medo de ladrão. Ele a olhou desde que sentou. Percebeu suas unhas ruídas e seus cabelos ralos que tinham lá o seu lindo charme. Ela, então, resolveu cantarolar: "Eu nasci assim, eu cresci assim, Gabriela". Que música gostosa, ela pensou. Ele achou aquilo engraçado, pois ela falava sozinha. Que louca, pensou ele. Uma louca bonita, sim, claro. Ela bem que era bonita, apesar de garantir que é capaz de metamorfoses. Como, menina? Ela explica: "É o seguinte, na 8ª série, meu professor de Biologia contou que as mulheres no período da ovulação têm um cheiro que atrai os homens. As mulheres ficam mais bonitas e cheirosas nessa fase porque têm que atrair para procriar". Apesar de eu achar que certas mulheres não atraem nem mosca no período fértil, ela acreditava piamente nisso e criou uma outra teoria. Ela passou a pensar que no período da sua mentruação não atrai os homens e é neste período que ocorre sua metamorfose. Ela acredita que fica feia e barriguda, sem nenhum atrativo, neste período. Ele também já estava cansado de esperar pelo ônibus. Tornou a olhá-la. Dessa vez desviou, ela também estava olhando. Ela estava rindo. Despois pensou "Por quê desviei? Ela tem o sorriso lindo". Ela parou de cantar. Achou que estava ficando com jeito de maluca, movendo os lábios sem emitir som. Abriu, então, o caderno. Um ventou passou de leve e trouxe ao seus sentidos o cheiro de tangerina. Ela fechou o caderno. Ficou feliz ao sentir seu cheiro. Na verdade, ela estava feliz. Olhou para o rapaz do lado, até que o achou bonitinho. Depois voltou a olhar pro caderno. Isso não é coisa que se faça, ficar rindo à tôa olhando para os outros. Ué, por que não? Voltou a sorrir. Ela já estava acostumada àquela espera. Até pensou em pegar outro ônibus, mas estava de bom humor. Ela ia esperar. Ele estava inquieto. Nem aquele cheiro de tangerina, que ele tanto gosta, alterou seu estado. Ele começou a pensar descontroladamente em como o ônibus demorava a chegar. Pensou na Lei Seca, nas eleições, em Lula. Ele até que tinha um quê na política militante. Gostava de ouvir horário político. Putz, esqueci o fone do celular, pensou. Ele estava perdendo o tal horário. Tomara que chegue a tempo de ver na tv, pensou em complemento. Levantou-se. Foi até a margem da calçada. Então, voltou, tornou a olhá-la. Ele a achou atraente. Tinha os traços finos e delicados, mas não era isso que o atraia, era outra coisa. Ele não sabia. Ela estava iniciando o pensamento de pegar dois ônibus. Ela viu aquele menino inquieto, sentiu que ele também aguardava o mesmo ônibus que ela. Só podia ser, ela sabia disso, conhecia "seu povo". Ela também se sentiu inquieta. Esqueceu o bom humor. Ela, agora, queria ir pra casa combinar a night. "Esse rapaz é realmente uma coisinha". Ela tem esses pensamentos repentinos, mas esse foi porque ele a olhou de frente. A demora do ônibus a venceu e ela pensou alto "Chega, vou pegar dois ônibus". Ela levantou-se. Ele a ouviu e pensou em segui-la. Até que era uma boa idéia. Ela sentiu que ele a olhava agora. Ele a olhava intrigado. Iria? Ela viu o ônibus suporte chegando, bateu a mão. Ele pensou que deveria ir. O ônibus, afinal, estava ali. Ela subiu no ônibus, sentia-se radiante. Ele ficou parado. O ônibus seguiu seu trajeto. Ela ainda deu uma espiada na "coisinha" do ponto. Ele acompanhou a saída do ônibus como quem vê partir o trem das onze. Resolveu esperar. Mas que cheiro delicioso. É o mesmo cheiro de tangerina. Se foi. Ela sentou no ônibus e voltou a jogar FreeCell.

sábado, 11 de outubro de 2008

"Mas há fronteiras nos jardins da razão."

- A exploração emocional não deveria existir.
- Claro, mas se não existisse estaríamos reclamando.
- Por que?
- Porque estaríamos todos iguais emocionalmente.
- Eu não penso assim. Penso que se não existisse seríamos mais felizes.
- Mas quem disse que quero ser feliz o tempo inteiro?
- Pois é, eu também não quero ser feliz toda hora. Vou ter cara da noiva de Chuck com botox.
- Ah, gente. Vão dizer que ser feliz sempre não é o que vocês querem? Deixem de falsidade!
- Eu não! Cruzes, dô valor a minhas lágrimas!
- Ah, eu também. Principalmente de tristeza. Fortalece.
- Nem sempre, vou ter que discordar, às vezes enfraquece!
- É, enfraquece tanto que ficamos doentes.
- Mas já não somos todos uns doentes?
- Talvez, mas não acho que seja bom procurar por isso. Ser feliz o tempo inteiro não dá e ser triste, triste, triste não quero ser.
- Não falo em ser triste, triste, triste. Falo que somos todos patologicamente seres humanos.
- É pode ser, mas não quero pensar nisso.
- É, faz parte, pensar nisso choca.
- Choca mesmo!
- A cerveja tá geladinha.
- Vixe, tá uma deli.
- E o sol bombando.
- É.
- Eu nem posso tomar sol.



Silêncio. Psiu!




- Um anjo passou.
- Não, o anjo tá aqui.
Gargalhadas.


"Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor!"